segunda-feira, 21 de abril de 2008

Artigo: Respeito às lagartas

Bráulio Cavalcanti*


Taturana ou Tatarana (do tupi semelhante ao fogo) é o estado de larva das mariposas, no Brasil, ou das traças na Europa. Têm pilosidades, são coloridas e somente algumas denominadas “taturanas assassinas ou lonomia oblíqua” são perigosas. Quando em contato com humanos, podem provocar transtornos hemorrágicos, insuficiência renal e às vezes a morte.

Os biólogos afirmam que estes danos são uma forma das bichinhas defenderem-se da ação predadora do homem que, estimulados pela impunidade endêmica no Brasil, provocam desmatamentos desnecessários e as obrigam a migrarem para plantações e pomares urbanos.

Na natureza, seu habitat natural, são inofensivas, comem folhas de cedro e de aroeira e possuem predadores naturais como: as mosquinhas da família tachinidae (que desovam cinco ou seis ovinhos no corpinho da taturana); uma vespa da família ichneumonidae que faz o mesmo (porém só põe um ovo); o vírus MMPU que é nocivo apenas para as taturanas assassinas ou lonomia oblíqua, que quando contaminadas tornam-se lentas e amareladas. Há ainda um percevejo da família pentatomidae e um verme da família mecmitidae que predam as lagartinhas sugando-lhes os fluídos.

Como vemos, as Taturanas de Alagoas, descobertas pelo pesquisador Dr. José Pinto de Luna da honrosa Polícia Federal do Brasil, têm nomes, sobrenomes, são de famílias famosas, poderosas que vivem e sobrevivem há vários anos às custas do pobre Estado de Alagoas, à luz do dia e todos os dias corrompendo e comendo folhas de pagamento de fantasmas. Os Poderes constituídos: Executivo, Legislativo, Judiciário e até o Ministério Público, predadores naturais desta praga, não estão nem aí e somente o novo e brilhante Procurador do Legislativo Estadual foi quem encontrou o foco, avisou a todos nós que corremos um novo perigo, pois desta feita a gangue é votada, é organizada e parece ter o apoio dos togados.

Corrupção é doença humana e contagiosa, em Alagoas parece ser congênita. Quem a estudou foi o sábio Niccolo Maquiavelli ou Nicolau Maquiavel como queiram, nascido em Florença nos idos de 1469, filho de Bernado e Batolomea de Nelli, teve infância feliz, formação humanista, priorizou o estudo das Letras e do Direito, e apesar do nome não era maquiavélico.

Corrupção é doença que se espalha facilmente no reino político. Há quem afirme que alguns políticos nascem, crescem, corrompem-se e morrem soltos, como na nossa querida Alagoas.
Conforme Maquiavel, a corrupção no corpo político denota o estágio da vida em que as partes se vão desligando do todo, rompendo sua ligação primeira (daí corromper, perder a ligação, romper a ligação essencial).

Há, no entanto, uma esperança contra esse processo crônico em Alagoas. Há alguns remédios e a receita é do próprio Maquiavel-livro III dos Discursos: a aceitação do conflito como algo salutar na vida política e a existência de Instituições livres e corajosas como o Jornal Extra e a Polícia Federal e por enquanto a tênue e incipiente capacidade de indignação da nossa sociedade organizada.

Retornando às inofensivas Taturanas, vale a pena uma viagem pelo campo científico da Biologia, as lagartinhas pertencem ao Reino Animal – Filo Arthropodae – Classe Inseto – Ordem Lepipoptera – Família Saturniidae e Gênero Lonomia. Esta é a folha corrida das coloridas lagartas.

Ao Dr. José Pinto de Luna, nosso herói, e aos seus agentes colaboradores recomendo uma nova estratégia para a próxima pesquisa nos campos Judicial, Legislativo e Executivo: sejam discretos, porém diretos. Não utilizem insetos ou roedores para codificar as novas ações profiláticas. Não cheguem às madrugadas. Cheguem a luz do dia em seus belos carros pretos, seus agentes em lindos uniformes negros, reluzentes e prateadas algemas, todos portando potentes auto falantes gritando a frente de palácios e casas legislativas “PEGA LADRÃO”. Os que correrem vocês processem, os que ficarem vocês investigam, e os que abrirem seus sigilos fiscais, bancários e telefônicos, vocês os enalteçam, pois por certo estes são do bem e nossos representantes.

Por enquanto só ficou a má fama para as inofensivas e coloridas lagartas.
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Artigo publicado no Jornal EXTRA.
Maceió, 18 a 24 de janeiro de 2008.

Um comentário:

FLORENCIA SILVA disse...

http://eldesmandelgorrionhippie.blogspot.com